Cenários de uma época

O Colégio

O Seminário das Educandas e posteriormente Escola Estadual Nossa Sra da Glória - foi criado em 1825, para ser um colégio estadual, comandado pela Irmandade de São José, de origem francesa, e voltado ao aprendizado profissionalizante muito mais por ter regime de internato do que o externado - convivendo ao mesmo tempo. 

O colégio, localizado na Avenida Nazare, teve um início diferente por estar localizado no Bairro do Ipiranga, "Palco da Independência do Brasil, em 1822, grande pólo industrial na segunda metade do século XX, refúgio  de diversas famílias de imigrantes que ajudaram a construir este país e (...)  por ser considerado (...) como centro cultural e estudantil."

Há vários anos, a Avenida Nazaré se transformou em um corredor de cultura e educação que atraiu grande número de jovens para a região.
Nesta avenida  e em seu entorno localizam-se unidades das universidades mais tradicionais da cidade e do país. É aqui que a USP (Universidade de São Paulo) concentra os museus de Zoologia e Paulista e a Unesp (Universidade Estadual Paulista), ministra as aulas da sua faculdade de artes. 

Porém três instituições se transformaram em patrimônio da comunidade ipiranguista por terem iniciado seu processo de expansão nesta via do Ipiranga. 
São elas: A Universidade São Marcos, no número 900, o Centro Universitário Assunção (Unifai), no 993, e o Centro Universitário São Camilo, no 1501. Nestes pontos da “avenida do saber” são formados jovens para desenvolver as mais variadas profissões. (...)"



O cenário de 1963


(passeata com atrizes na frente)



- o período de chumbo, durante o primário e ginásio, foi ao mesmo tempo silencioso no cotidiano e criativo nas artes; lembro que por vezes chegava na escola (ia à pé, subia a av Nazare) e dona Doris ou alguma freira, avisavam que era para voltar para casa em razão de alguma ação militar, ou ativista; não explicavam nada além disso;

- tivemos nosso período de infancia e adolescencia sob regimes ditatorial e militar e por não conhecer outro regime, não estranhamos tanto; por ex. ninguém sabia o que era democracia, e o que ela trazia ou propiciava; a única freira que me lembro ter abordado algo, foi a do 5o. ano e que por isso, foi chamada a atenção;

- as freiras, professoras, todos esses personagens de nossas vidas deram o melhor que sabiam, para aquele momento;

- lembro do dia próximo de 31 de março de 1964, eu estava no primeiro ano e minha mãe e minha tia abasteceram a casa com muitos mantimentos pois falava-se em revolução. Fui a um supermercado com elas e compramos uma infinidade de produtos por medo de faltar alimentos;

- lembro que uma amiga da família era professora de uma escola experimental, vocacional, e ela teve que ir prestar declarações no Dops porque no diário de classe constava a interpretação da música Roda Viva;

- tinha também uma vizinha que estudava na USP e que uma amiga dela sumiu;

- a época foi muito dura para todos; 

- nosso telefone foi censurado, em todas as conversas havia alguém escutando;

- imaginem para as freiras, que pressão deveriam passar...nos deram o melhor delas, sabe-se lá o que passaram, porque estavam lá, vocação?  Foram obrigadas?

- nós éramos crianças e não tínhamos ideia do que estava acontecendo;

- até para entendermos o hoje, precisamos resgatar o passado e entender o que aconteceu, a parte positiva foi que vingou a liberdade de expressão e a parte negativa que vingou é a que estamos amargando hoje;

- a lembrança desse momento conta o que era o momento, fora dos portões do colégio onde estávamos à salvo; 

- não gostava dos sábados, dos domingos e das férias, pois a volta à Escola, às 2 feiras, era o que mais adorava e esperava;

- um camburão ficava parado na frente de casa. Talvez pela percepção infantil desse momento, onde a gente sentia que algo estava errado, no ar, mesmo sem saber do que se tratava, fazia do colégio nosso porto seguro onde estávamos juntas, e isso nos liga até hoje - passe o tempo que passar.

- minha mãe falava que tínhamos que ajudar as freiras com alguns mantimentos, pois tinham as internas e semi internas que comiam lá e o governo estava cortando o que enviava para a escola, lembro até dela comentar que elas nunca pediram dinheiro;

- estamos desembaraçando um novelo de lã, que os gatinhos embaraçaram;

- quem lembra ajuda as outras na volta ao tempo..... coisa rara nos dias de hoje;

- soubemos fazer uma boa limonada dos limões que a vida nos deu, e estamos hoje, brindando a vida com todos os seus desafios.


(a riqueza musical de um momento: 1967)

As Alunas


Tínhamos tres uniformes:
- diário (c/ avental xadrezinho)
- formal (azul marinho)
- de gala: todo branco e com luvas, tb


A Dainá Cejnar, de primeira comunhão, sempre mais alta, ela falava em russo em casa, ficava de boca aberta , era da antiga Tchecoslováquia, saudades!

Jacira tinha máquina fotográfica, adorava ver seu pai todo dia te buscando de chapéu e guarda-chuva, tempos bons que não voltam mais.


 Vou recordar da irmã que fazia tercinhos, perto da rouparia, eu ficava direto olhando ela, ajudava separar e dar as contas que eram de uma planta que tirava do quintal ficava doidinha.

Depois de bordar toalhas de tamanho dobrado, por conversar excessivamente, minha mãe foi chamada pra conversar com a Madre Virginia, que eu seria expulsa caso viesse a ser chamada atenção mais uma vez. Minha mãe então resolveu me tirar do colégio no final do ano letivo. E voltávamos todos os dias felizes da vida.

Por outro lado, fomos educadas a pensar que tudo era pecado, errado. Eu então comungava e preenchia os corações da novena. Isso não era normal, só tinha oito nove anos.
É verdade, por pior que fosse, conseguimos passar por tudo e nos tornarmos verdadeiras cidadãs.


Primário



(turma da dona Nazareth)


(turma da dona Floriza)




(turma da dona Laíde)

(fotos: álbum da Sonia Mara)




Ginásio






















(fotos: álbum da Sonia Mara)



As Professoras e as Matérias


Primário

Manhã


Elisa e Ana (ed. física) 
Branca (ed. musical - canto coral)
Nazare (1o. ano) 1963 - ela era bem pequenina na altura, era fofinha de corpo, sempre sorria, falava alto, e usava uma frase quando queria dar a bronca: "Só dando com gato morto pra ver se mia"; a gente não entendia mas ria.

Laíde (2o. ano) 1964
Mirene (3o. ano) 1965
Leda Mascarenhas Nogueira (4o. ano) 1966 - era muito energética, brava, mas por outro lado tocava piano, escrevia e ensaiava as pecinhas musicadas no teatro; nas aulas de portugues, ensinou a escrever histórias de forma colaborativa com muitas mãos; um tema era escolhido e cada uma ia falando uma frase, que ela escrevia na lousa e assim sucessivamente até a história terminar; aí copiávamos no caderno. Aprendi muito com esta forma de escrita criativa.


 Tarde
Morisa (1o. ano) 1963
Maria José (2o. ano) 1964
Cláudia (3o. ano) 1965

Rute (4o. ano) 1966 - ela tinha as feições sempre muito séria; graças a ela minha letra ficou bem melhor, devido a aula de caligrafia que ela nos dava, às 6as feiras, adorava . A minha letra é boa também de tanto fazer caligrafia. Eu aforava fazer caligrafia.

Irmã Gilberta (5o. ano) 1967 - fiz o quinto ano com a irmã Gilberta que odiava o nazismo e vivia falando sobre guerra. Lembro que em casa arrumei um livro sobre politica e comecei a ler. Meu pai sumiu com a publicação e mamãe conversou com a irmã Gilberta pedindo que não falasse mais de guerra. Alguém lembra disso?



Ginásio





    

Manhã / Tarde

Como era um colégio industrial, tínhamos 13 matérias:
1. Portugues (Laurinda, Judite, Terezinha Bellat)
2. Matemática (Alzira - paraninfa e Emilia)
3. História (Terezinha Mello e Odete)
4. Geografia (Terezinha Mello, Tereza Meyer e Odete)
5. Ciências (Odete e Wécia)
6. Educação musical (canto coral, fanfarra=Branca)
7. Desenho (Firmina Vargas e Jofely Nolf)
8. Arte Culinária (Eda)
9. Puericultura
10. Corte e costura; bordado (Mariazinha Vargas e Marianinha)
11. Artesanato (flores=Emília Vargas; madeira, couro, gesso=Fortunata; pintura=Firmina Vargas)
12. Educação Física (Elisa, Ana)
12. Estudos Sociais (OSPB)
13. Educação religiosa

As aulas, os recreios e os espaços do colégio.

As Aulas



- Lembro, direitinho, fomos pela manhã, na escola, foram chamando, chamando, chamando, sobraram algumas, eu dentre elas e a diretora, falou, quem sobrou volta à tarde, fiquei arrasada, mas me arrependo , pois neste ano , nós formamos uma turna bem unida.

- Uma vez passei uma prova inteira de história pra uma colega que nunca estudava. Aí a Terezinha Melo não falou nada na hora, mas me escreveu: "Ajuda o teu semelhante a levantar a carga, mas nunca a carregue". Fiquei arrasada, pq ela era minha "ídola"! 



Aulas de Bordado

      Era uma delícia quando iniciávamos os bordados em ponto cruz em enormes toalhas xadrez  e cada uma pegava um lado - era o momento de combinar as domingueiras, falar das paqueras, namorados sérios, sonhos...


     Os bordados para o Bazar das Missões...


      E os para o enxoval...


Aulas de Educação Física
(Profa Elisa)



- Dna Elisa, sabia muito bem ser uma personal trainer, pois toda aula de educação física, iniciava com um balé que todas dançavamos e aquecíamos, maravilha!  Gente, e aquele maxishorts?????  O que era aquilo????  Eu enrolava muito aquele shorts e vivia levando bronca. A madre parava o jogo pra eu arrumá-lo! 
- Quando íamos jogar, á noite, a perua da dona Doris ia levar a gente em casa



Aulas de Culinária
(Profa Eda Bernardo)



- as aulas práticas, de culinária,  eram aos sábados; lembro que no ginásio, os namorados só podiam esperar as namoradas nas esquinas do colégio (isso quando a freira não ia espantar os rapazes) e a gente fritava pastéis, bolinhos, e saía cheirando a gordura...

- a Saleta de Artes. embaixo do salão de festas, era um espaço adorável. Sempre íamos em outros horários fazer trabalhinhos, mexer com tintas, serrinhas muito relaxante;

- fiz muito artesanato nessas aulas; adorava!! (tamanco de couro, bandeja de madeira...);

- nas aulas de corte e costura, podíamos escolher o que costurar e lembro que fiz meu traje de 15 anos: calça e túnica midi de chantung dior preto (e forrada); meu pai quando me viu pronta, no dia de meu aniversário perguntou à minha mãe: - É normal?? kkkk

Os Recreios



 - Quem lembra da mesa grande onde eram vendidos alguns doces no recreio,entre eles uma pipoca caramelisada? E do Q suco no caldeirão?Vamos lembrar mais....bjs e um ótimo final de semana.  Tinha um dia q tinha cachorro quente ou estou enganada. Eu lembro dessa mesa de doces e do Q-suco de caldeirão e, também do cachorro quente. Como é bom ler e participar de tudo isto! Saudades!
Muito ter o q lembrar e td tao inocente.

A irmã Edwiges vendia doces. Acabava o recreio ela guardava tudo no armário.


- Eu vendia pirulito chupeta de groselha, guardados em latas de metal, durante o recreio para a irmã Gilberta. Ela dizia que os pirulitos quebrados não precisávamos vender e podíamos chupar...então era a maior delícia pois no fundo da lata de metal sempre tinha os quebrados! Uma Festa!!!

Os Espaços do Colégio


O Ambulatório

Lembro do consultório médico. Ele chamava Dr. Homero, tinha uma freira de hábito branco que era enfermeira. Para entrarmos, era obrigatório colocar pantufa nos pés. Aquele chão brilhava de tanto ser encerado. 


A Gruta


O Jardim da Capela


 

O Pátio do Ginásio


As Freiras e os Padres


- Madre São Luis (diretora)



(Ana Maria Machado e a Madre São Luis)

- Madre São José (vice-diretora)

- Irmã Ana (rouparia)


- Irmã Jovita (cozinha)  -  trabalhava na cozinha, era muito corcunda - uma graça de pessoa

- Irmã Gilberta (5a. série)

- Irmã Edwiges (primário)


- Capelão João e Monsenhor Roxo
O capelão João  era bem velhinho e fumava muito; guardávamos distância no confessionário pois na hora da absolvição, cuspia muito por causa da dentadura - que também escapava na hora da missa tirando a concentração, e as meninas riam até chorar. Depois veio o Monsenhor Roxo. 
As freiras diziam que não podíamos brincar perto da casa do padre e havia a história que o orquidário era um cemitério. Acho que era pra dar medo nas meninas e aí ninguém ia brincar lá no recreio. Mais pra baixo do orquidário, atrás do salão, tinha uma horta enorme, muito bem cuidada,maravilhosa.
Depois que o padre morreu, cabulei aula com umas amigas (não me lembro quais) e fomos nos esconder na casa do padre. Começamos a ouvir um andar, de chinelo arrastado... Ficamos apavoradas, achando que era a alma do padre! Só depois vimos o jardineiro arrastando a mangueira. Ufa!!

As Artes (música, teatro e cinema)




Assistíamos a sessões, em partes, de filmes religiosos como a "Vida de Jesus", "Marcelino Pão e Vinho", entre outros.
As classes entravam em fila no salão e as alunas sentavam nas arquibancadas de madeira.
Um privilégio termos acesso à cinema.


(filme de 1954, completo)




Pirulito que bate-bate


Usamos roupas do colégio, uma saia xadrez com vermelho, na cabeça um turbante da cor da saia; pintamos o rosto com rolha queimada para ficarmos pretinhas e aí cantávamos e dançávamos, com a profa Leda M. Nogueira, tocando a música no piano.












Ficha técnica

- diretora artistica: Profa Leda Mascarenhas Nogueira
- fada: Evelyn
- saci pererê
- onça: Ana Maria Machado
- coelhos: Roseli Masseiras, 
- borboletas: Marinéia, Bete Alonso
- vagalume: Angela Nolf
- lobo: Margarida Nogueira